29 anos

Dayanne Dockhorn
2 min readMar 23, 2023

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Faz seis anos que estive em Paris, uma vida inteira atrás e não me reconheço nas fotos. Eu mesma nunca pisei em Paris.

A juventude é linda especialmente pela ingenuidade da palavra. Em vez de revirar os olhos, hoje consigo ver beleza nos erros, nas dores de crescimento, nos caminhos duvidosos, o mundo no umbigo. E eu não sou quem eu esperava ser aos 17. Alguém é? E eu não sabia de tudo aos 20. Alguém sabe?

Não tenho muitas memórias da minha infância. Aquelas que guardo me encontram de cabelos em tranças, pés balançando na rede debaixo dos eucaliptos. Sozinha, estou escrevendo sonetos em guardanapos e rimando verbos ao cantar, triste e feliz ao mesmo tempo. Pensei que saberia envelhecer, como as tartarugas que nascem na praia sabem que devem caminhar em direção à água. Penso nos que me precederam. Penso nos erros e tentativas dos quais nunca fiquei sabendo, e então penso nos meus. Penso nas portas que abri e nos caminhos que tornei possíveis. E em como nós podemos significar coisas distintas para diferentes pessoas — estradas, janelas, incêndios selvagens.

Tenho 29 agora. Depois de 12 anos, estou voltando para a universidade. Mas eu nunca me imaginei mais velha. Nunca tive uma visão de mim aos 50 anos: quem ela é, onde vive, o que faz. Por que tenho a sensação de que somos impedidas de sonhar após os 30? Recém estou aprendendo a não me abandonar, a ter a decência de fechar portas, minar ouro, pensar nos filhos que nunca virão. Recém estou encontrando as partes de mim que perdi no caminho, por que frear de repente?

Envelhecer não precisa ser tenebroso. Pode ser, inclusive, o desembrulhar de um presente. Do presente.

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