Enganos pessoais

O celular me avisa mais uma vez
das mensagens não lidas que se acumulam nos meus dedos
oi, tudo bem, boa viagem
nenhuma de você

sento nas cadeiras em fileira
e te imagino sem fôlego
subindo as escadas do aeroporto
pegando as minhas mãos nas suas
um súplico de não posso te deixar ir assim

a toda hora olho para a porta, checo os corredores
procuro você sob os bonés,
nos trejeitos dos passos no linóleo
de pé me arrumo
mas você me engana
sem prometer nada

eu fiz de ti o meu centro
e não sou a única que me detesta
por isso
abro fendas nos pulsos quando ninguém está olhando
rego as plantas que crescemos na sacada
ponho a mesa e te espero

porque eu te decepcionei com palavras
e você me machucou com silêncio
mas ninguém ficou sabendo
fingir é seu nome do meio
e à medida que os minutos passam sem te ver
as esperanças desmaiam
você desaparece
como se nunca me tivesse