Lá em cima

Dayanne Dockhorn
1 min readMar 23, 2023

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[Huaraz, Peru, março de 2018]

Lima havia ficado para trás sem uma foto sequer, apenas a lembrança das escadarias da rambla, subindo e descendo todos os dias mais de duzentos degraus. Por oito horas, pelas janelas do ônibus vi o deserto se tornar a cordilheira. Começamos a subir lentamente, sem ultrapassar os 40 km/h. As curvas e os penhascos eram algo de outro mundo. Ficamos hospedados em um hotelzinho sem elevador, quatro andares, vista para as montanhas, e logo entendi o que diziam sobre a altitude. Perdia o ar toda vez que subia as escadas. O café da manhã era suco de mamão e pan de piso com manteiga. A van para o parque Huascarán chegava quando ainda estava escuro, os vidros embaçados num frio de tremer as pernas, as camadas de roupas de repente inúteis. Sacolejava com outros estrangeiros pela estrada de pedras improvisada até o começo das trilhas. Os cenários me lembraram de alguma coisa que eu não sabia identificar, talvez ficção, natureza intocada. Meus pés me levaram ao fim de uma geleira, algumas dezenas de lagos cristalinos a mais de quatro mil metros de altitude, e apesar da chuva nos acompanhar durante toda a subida, lá em cima o sol se abriu.

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